terça-feira, 28 de dezembro de 2010

2010 em imagens




















quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

1144 - 1146

Amanha é dia de partir, portanto achei que devia dizer adeus a Jos, o meu vizinho. 

[pausa]

Revi neste momento todo a conversa que mantive com ele, e acredito cada vez mais que a distancia que existe no nosso caminho é a suficiente para enriquecer a vida de cada um.

Sentados no sofa, a ver televisao, sem olhar para horas. Cerveja na mao. Partilha de histórias. 

Fui jantar em 20 minutos e voltei com o portatil. "I wanna show you something, Jos!"

E durante uma hora, mostrei onde fica Faro e Trás-os-Montes; mostrei como se distingue a minha casa em Lisboa das restantes, por satelite; falei-lhe dos Açores e da Madeira. E se a atençao dele era desviada pela televisao, tambem eu nao deixava de olhar para o jogo de futebol. 

Ele estava fascinado. Ele estava a aprender o pouco que eu lhe podia ensinar. Mas estava a aprender. E aos 77 anos, creio que Jos está a fazer a viagem mais confortavel que podia fazer, a Portugal.

Isto foi a minha história. 

A história dele foi um desabafo de vida.

"Do you know, André, that every morning I wake up and I said always the same 'I can do whatever I want!' ? ", e riu-se. Nesse momento confirmei aquilo que já tinha dito, Jos parece que está num final de dia enorme, que nao acaba. E naquele olhar que ele re-lançou à televisao, percebi que a sua simplicidade de vida era isso mesmo: um descanso.

Falou entao numa das profissoes que teve. A certa altura disse: "I was always working. Then my wife gave me life". E um olhar de relance na fotografia que enriquecia a parede do outro lado da sala fez-me perceber que tambem o seu descanso era conformismo.

Se sempre que for a casa de Jos voltar com pensamentos e reflexoes de vida para semana e meia, vou sair da Holanda completamente renovado.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sao 3:20. O sol começa-se a por e tenho o meu "sofa" virado para esse lado do horizonte. Um ceu limpo como ja nao podia desfrutar ha imenso tempo.

Meio desprevenido, marcou-se aula para amanha à tarde, ultimo dia por cá. Custa-me a levantar, mas tenho que ir tocar. 

A cor neste por do sol ja existe. Vou agora acrescentar o som.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Viagem no Tempo

Cheguei a Haia a 30 de Agosto, com uma mala e duas mochilas. Muita vontade de tocar, curiosidade de quem nao sabia bem o que lhe esperava.

Na quinta feira, dia 16 de Dezembro, vou desligar a luz do meu quarto e fechar a porta da minha casa. Saio de Haia com hábitos novos, como acordar todos os dias com o nascer do sol, ou jantar enquanto vejo comboios a passar, ao longe.

Cheguei a Haia cansado de uma pequena viagem. Parto agora cansado de 3 meses e meio sem parar, sem regressar, mas com um sorriso na cara de quem sabe de que, fazendo um bom trabalho, ainda tem muito por melhorar.

É bom ir renovando desafios. Só assim nao caio no erro de parar, de estagnar nalgo que nao é o "final".  

Cheguei a Haia vindo de um Verão que me preparou para estes dias. A saudade foi acumulando. Volto agora, no Natal, para "esvaziar o saco". 

E assim se ganha ainda mais gosto naquilo que se toca!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Geraçoes

Jos van Aken, 77 anos.

André Ferreira, 21 anos.

Quando às vezes penso se tambem a minha vida dará um filme, um dia, julgo sempre que nao. Mas estas histórias que acontecem sao verdadeiramente dignas.

Foi em Outubro que abri a caixa do correio para tirar o papel que dizia que o pack da Internet tinha chegado, mas que ninguem estava em casa. Subi para casa, e deixando a mochila, preparei-me para ir aos correios. Ao descer, olhei de novo para a folha. Estava em Holandes, mas percebi rapidamente que a encomenda afinal tinha sido deixada com o vizinho do 1148.

Bati à porta de "J. D. van Aken", como estava escrito na entrada. Receie que nao falasse ingles, mas levei o meu passporte para perceber que a encomenda era para mim. Abriu um senhor velhote, mas alto e possante. Cumprimentou-me bem disposto, e sabia falar ingles. Disse que tinha a encomenda consigo, e convidou-me a entrar. Expliquei-lhe que eramos os seus novos vizinhos. E quando falei de Portugal, rapidamente ele disse: "Cristiano Ronaldo?" e eu sorri. "Serve!", pensei.

E no hall de entrada, começámos a falar de futebol. A meio interrompeu-me e disse: "Do you have free time?". Que pergunta, pensei num milésimo de segundo. Se tenho tempo? Sim, nao falta. Estudar em casa dá nisso. Por mais que estudemos, ha sempre algum tempo livre, pelo menos para mim, que nao consigo maratonas "espantosas" de 8 horas de estudo desesperadas. "Sure!", respondi. "So, when you have free, come here, so we can talk." E percebi que talvez nao fosse o único ali que passasse as tardes todas sozinho.

Despedi-me com a certeza de que iria lá voltar. Para lhe poder fazer companhia, para podermos falar, enfim... para a minha vida aqui em Haia tambem ganhar ainda mais sentido.

Um mês depois, num jantar aqui em casa, esqueci-me que nao tinha abre caricas para a cerveza. E fui bater à porta de Jos, na esperança (ou quase na certeza) de que me ajudasse. Percebeu o que eu queria, e encarregou-se logo de procurar por algo. Mesmo após ter encontrado o saca-rolhas, que na ponta costuma ter o que eu procurava, ficou desapontado: "I have so many of them, but I can't find...!" .. "No problem, Mr van Aken! It's opened!". Muitos "Thank you very much!", e claro, mais 5 minutos de futebol. 

Regressei para casa, tendo a leve sensação de que a conversa nao tinha ficado por ali. E pouco após ter-me sentado à mesa, bateram à porta. Era ele, erguendo um abre caricas, dizendo: "This one is for you, keep it!". Estava um gelo desgraçado, portanto so me veio a ideia de que ele tinha que regressar rapidamente para a sua casa (que fica a meio segundo da minha..). Disparei uma metrelhadora de "Oh, Thank you so much!" e umas quantas coisas balbuciadas. 

Esta terça feira estava a terminar o meu estudo, quando alguem bateu à porta. O correio nao era, porque aquela hora ja nao podia ser. E tambem ainda nao eram horas de as raparigas estarem a vir para casa, portanto pus as minhas maos no fogo em como seria Mr van Aken. Abri a porta, e lá estava ele. Perguntou sem hesitar: "There's gonna be a football game in TV. Do you want to see?". O Sporting ia jogar nessa noite, e pensei em guardar o tempo de descanso para depois de jantar. Mas achei que nao devia recusar. Disse que sim, e foi o tempo de vestir o casaco (sorri ao pensar que tinha que pegar no casaco, chaves, telemoveis e... ir para a casa ao lado).

A casa é mais pequena que a minha, embora com a mesma estrutura. Entrei na sala, alcatifada. Sabia bem entrar num sala "mobilada". 2 gatos pretos, "nao, nao vao dar azar", pensei. Convidou-me a sentar. De rompante olhei para a pequena mesa dos jornais, em frente aos sofas. Uma garrafa de vinho, cigarros, uma quantidade enorme de bombons. 

A primeira pergunta que me fez era obvia: "What's your name?". Insistiu que eu bebesse uma cerveza. O jogo começou, mas percebi que havia tanto para falar que seria dificil ver o que fosse. Perguntou-me o que eu estudava, e desbobinei parte da pequena historia universitária. Franziu o sobrolho quando percebeu que eu estava inscrito em dois bacherelatos em paises diferentes, em sinal de "God! Are you crazy?". 

Falou, entao, da familia, enquanto mudava incessantemente de cigarros. Era viuvo, e era bisavo. De repente percebi o quao "longe" estavamos. Afinal, ele tem mais do triplo da minha idade. Perguntei-lhe qual tinha sido a sua profissao. 

Riu-se e inclinou a cabeça. Acho que ja sabia que eu ia ficar espantado. "Me? I was the house keeper of the Queen's Palace!" Ja fiz muitas expressaos de olhos esbugalhados, ar espantado, mas nada que se compare. Apontou-me entao uma fotografia da rainha. Levantei-me, e fui ver à prateleira. Ri-me. Era a Rainha e o Rei, e estava com uma dedicatória e assinatura da Rainha.

A partir daí o futebol deixou de existir, so havendo tempo para uma rápida olhadela aos golos. Contou-me histórias de vida, que me fazem pensar o pouco que percorri, e o que ainda tenho que percorrer. Mas nao so falava, tambem queria saber. "I want to know everything about Portugal!", dizia. E percebi que olhava para alguem que viajava, sempre, sem ter que sair o lugar. Eu far-lhe-ia essa viagem. E de repente senti-me melhor, por poder ajudar. 

Histórias de ambas as partes. 

Hoje olhei pela janela para ver a rua , de noite. A neve cobre tudo, e parece que deixa o escuridao com ainda mais vazio. Mas do lado esquerdo, la estava a luz acesa da sala de Mr van Aken. Estará a ver a sua colecção de selos? Ou a ver mais um jogo de futebol? Nao sei, mas saber que tambem ele está ali parece ser agora familiar.

E se eu ainda puder tambem fazer a diferença na vida dele? Para mim, ja fez.

Foi entao a primeira vez que me apercebi que se Pedro de Arimateia tivesse envelhecido, encaixaria na perfeiçao.

Geraçoes.

domingo, 28 de novembro de 2010

Emigrante

A pequena história que vou contar estragou-me o dia, nao só pela história, mas por ser o culminar de uma situação que irrita a minha orelha esquerda.

Ser emigrante é, quer se queira quer nao, ser olhado pelas outras pessoas como: "Este-não-é-de-cá". Nao digo que é bom ou mau, apenas uma reacção natural. Tantas vezes aconteceu-me em Portugal e cruzar-me com pessoas que notoriamente nao tinham "aspecto de Tuga". Se era só a mim que isso acontecia, entao é mau sinal.

E comigo a regra nao foge. Mesmo num pais que por vezes reune Americanos, Mohamed's e Pierre's em pouco mais de 1 km2, nota-se que há sempre aquele "que-não-é-de-cá". E eu, notoriamente, sou um desses.

Isso implica que, quando vou a passar na rua, levo por vezes com olhares que eu proprio fazia antigamente. Ao inicio pensei que seria pela raridade de ter as pernas algo curvadas, mas depois percebi que nao. 

É, nalgumas vezes, desconfortante. Porque as pessoas continuam a olhar mesmo depois de eu olhar para elas. Quando me enerva particularmente, finjo olhar para tras, na procura de um ponto invisivel para onde a pessoa tivesse a olhar. E quando volto a cara, o olhar desapareceu.

Mas hoje, excederam-se.

Estava a ir de bicicleta para casa, vindo do Albert Heijn (o supermercado da zona, fusao de Pingo Doce [decididamente a musica ambiente é enervante], Continente, e tem algo de Jumbo e MiniPreço) . Encontrava-me na longa avenida "Het Kleine Loo". Estava algo deserta, os dois sentidos estavam sem carros, e apenas umas pessoas atravessavam para irem ao centro comercial aqui da zona.

Eu estava perdido nos meus pensamentos, enquando ouvia o meu mp3. Estava bastante frio, portanto levava o capuz (mesmo nao estando a chover), o cachecol. Resumindo: ia bem agasalhado. 

Começa o festival: passa por mim um carro da policia. E ao passarem por mim, resolvem abrandar. Mas quando digo abrandar, foi literalmente manterem a mesma velocidade que eu (baixa, por sinal). Nisto, um dos policias (o do banco do pendura), começa a olhar fixamente para mim. Nao foi 1 segundo, foram 10 ou mais. E nisto, la iamos "caminhado" alegremente pela avenida. Fiquei irritado, e tirei o capuz para me verem melhor a cara. O policia deixou de olhar... por 1 segundo. De seguida voltou a fazer a figura de parvo que estava a fazer. A certa altura o carro acelerou e parou nos semaforos em frente. 

Entretanto pensei rapidamente que podia estar a infrigir alguma regra de transito. Mas vejamos: lado certo da via, sim. [Embora veja com cada anedota todos os dias..] Luzes, nao eram preciso: estavamos de dia e sem nevoeiro. Musica? É permitido. 

A pista das bicicletas cortava pela estrada dentro: dividia a faixa dos carros que queriam seguir em frente, como eu, da faixa dos que queriam virar para a direita, que era o caso da policia.

O semaforo deve ter aguentado de proposito para que eu chegasse. E nisto, a minha bicicleta pára lado a lado com o carro da policia. Evito olhar para eles, e quando o faço, respirei bem fundo: Estavam os policias a olhar para mim, outra vez com cara de caso. Mal perceberam que eu estava a olhar, desviaram a cara. Entretanto o semaforo deles tinha aberto, e seguiram.

Caros amigos, e mesmo sabendo que tambem os meus pais leem isto, eu gostava de dizer que, naquele momento, por 1 milesimo de segundo eu pensei em bater na janela do carro e perguntar:

"Good morning, Officer. Is there any problem?"

Acho que esta foi a versao soft, que me passou pela cabeça. Depois do sucedido e deles terem ido embora, confesso que me apetecia incluir algumas asneiras para tornar a frase ciente do quanto me tinha irritado aquela cena toda.

Enfim, tirando este promenor, parece que vivo em Haia há mais de 1 ano. A neve começa a aparecer, e a dar um colorido ao Natal que so via em filmes. Surgiu tambem uma proposta para ser organista numa igreja protestante, que se Deus quiser, irá-se concretizar.

Vidas..!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Hoe gaat het?

Sabe bem andar de bicicleta.

Sabe bem quando o sol aparece, nem que seja por 5 minutos.

Sabe bem sair às 8 da noite de casa, e perceber que nao se ouve carros na rua.

Sabe bem jantar com uma vista fantastica, todos dias.

Sabe bem ouvir o comboio passar ao longe.

Sabe bem a saudade.

Sabe bem poder tocar ate nao poder mais.

Haia sabe bem.

domingo, 7 de novembro de 2010

Noite


Está frio la fora. A casa, com o aquecimento, apela a tshirts, mas nao arrisco. 

Ouve-se, ao longe, alguns comboios a passarem para a estaçao Mariahoeve.

Amanha nao tenho aulas, mas isso so aumenta a responsabilidade de estudar. E muito. 

A casa ja está "arranjada", e aquilo que parecia improvavel há 2 meses, agora é uma realidade. 

E continua a aventura..!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Outubro

Se ja la vao 2 meses, nao parece. Meio ano, talvez. Sabe bem pensar que vou voltar no Natal, onde Lisboa ( e minha casa ) já está revestida com o espirito natalicio.

Até lá, sou torturado com este frio que queima a cara. A bicicleta parece natural, mas faz falta o carro. A chuva nao incomoda, mas seria melhor que nao existisse.

De Portugal, ha a saudade das pessoas, nao da terra. Sinto como o jogador de futebol que antes jogava num campeonato "cipriota", e agora joga na Liga Inglesa ou Espanhola. E sempre que subo ao orgao para tocar em Amesterdao ou em Haarlem, parece que entro em campo para jogar a Liga dos Campeoes.

E nem há dois anos, que parece que foi ontem, eu imaginaria que estaria aqui. Uma boa surpresa!


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Evoluir

Crescer e' ter novas responsablidades. Perceber o caminho a percorrer. E neste mes que passou, uma licao ja e' obvia: Trabalhar.

E enquanto poder trabalhar, confesso que fico feliz.

As saudades vao surgindo, mas alimentam a fe' de que um trabalho bem feito tera' um descanso merecido!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Segunda feira

Hoje e' de viajar. Destino: Harlem. Aula de duas horas.

Na mochila levo Reger, Franck, Bach.

Acordar cedo de manha por vezes relembra-me a mesma rotina que tinha em Lisboa, quando por volta das 9 estava no Gregoriano para estudar. Aqui, na mesma proporcao, ve-se pouca gente manha cedo.

Deixar tambem a nota de que a embaixada Portuguesa e' tipicamente... portuguesa. Ou nao tivesse portas automaticas que mal funcionam, senhas de filas que pouco servem, falta de informacao ao nosso melhor estilo, mas uma simpatia incrivel, propria de nosso pais. Soube bem!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Acordei 'as sete, vim para o Conservatorio 'as nove. Tenho aula em Scheveningen (fica perto da praia) 'as nove e meia.

Por favor, alguem feche a torneira la de cima. Nao para de chover um minuto. Sorte das sortes, a mochila comprada no LIDL possui uma especie de saco impermeavel para proteger a chuva. Assim se comprova a eficacia do LIDL.

Tempo de me por a caminho.

domingo, 26 de setembro de 2010

Skype

Os dias vao passando, e a rotina começa a tomar forma. Gosto, porque uma rotina bem feita pode ser sinal de muito bom trabalho.

Disseram-me que de manha o Conservatório costuma ter as salas de piano disponiveis, pois nao é tanta a procura. Optimo. Gosto de acordar bem cedo e começar a trabalhar. O poderia nao ajudar, mas como está sempre a chover, a acto de ignorar ficou automatico.

Entretanto o meu quarto ja começa a ganhar forma. Gastei uma hora a montar um pequeno sofá que só tinha 4 peças (o que fez uma grande ironia à minha forma de pensar que tinha facilidade em montar moveis do IKEA). E outra hora e meia a montar o armário. Apesar de a casa ficar "longe" relativamente ao conservatório (40 minutos a pé. Uns quantos menos de bicicleta. 10 mintuos de tram), sabe bem ter um espaço. E um espaço tao bem perservado como a casa que encontrámos.

Entretanto, ontem finalmente tive a minha primeira conversa gregoriana por Skype. Tenho-o utilizado regularmente para falar com a familia. As potencialidades de ter mais que duas pessoas à conversa é fenomenal. Matam as saudades, que apesar de poucas, vao surgindo.

A minha unica aula amanha é às 8 da noite em Amesterdão. Gosto de "viajar" com a rapidez que eles aqui proporcionam, e nao estarmos restritos a um pequeno espaço. Fantastico, mesmo!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Reaçoes

As primeiras aulas desta semana ja foram: piano e órgão.

A pergunta "O que vim aqui fazer?" nao é muito frequente, mas plausivel de certa feita. E a resposta surge sempre nestas alturas menos imprevistas. Uma confirmação.

O meu professor de Órgão chama-se Jos van der Kooy, e logo na primeira aula desmanchou a minha "suposta" técnica em 5 minutos. Alias, creio que toquei, no maximo, durante 4 minutos. Fui apanhado de surpresa, estava à espera de um debruçar sobre a peça em questao, mas realmente a nova introdução à sua tecnica deixou-me agradavelmente surpreendido.  Isso, contudo, nao impediu de preencher uma folha A5 com pelo menos 10 peças a serem vistas o quanto antes. Trabalho, é o que se pede.

A minha professora de Piano chama-se Katy Satur, e se nao é uma bençao, está lá perto. Baixinha, parece que nunca conseguiria tocar uma nota que fosse. No entanto, nao esperou por tretas de apresentaçoes muito longas nem saber muito da minha vida: donde venho e onde estudei. Nunca toquei piano? Nao faz mal, vamos na mesma. E a aula, que supostamente demorava meia hora, encheu tambem uma folha A5 com exercicios para casa, e duas peças. Terminou cum um dueto, e um sorriso de quem sabe que tem muito para trabalhar. O relógio nao mentia: o tempo nao tinha passado a voar, afinal a aula demorou 45 minutos. 

Hoje seguem-se ainda 2 horas de estudo de orgao. Holanda nao são férias. E ainda bem.

domingo, 12 de setembro de 2010

"Almoço Familiar"

Cheguei dia 30, hoje é dia 12, portanto contabilizam-se 13 dias de estadia em Haia.

Ja há rotinas, que decerto serao desfeitas com a mudança de casa. Contudo nao deixei de reparar que me começo a adaptar a este modo de vida "menos comodo": o final dos jantares significam sempre lavar a loiça. Todos os dias tem-se que pensar em preparar refeiçoes. Acho que é isto que, em sua parte, tambem define a palavra "experiencia".
E a palavra experiencia adquiriu outro significado quando hoje fui à missa aqui na Paróquia Católica de Haia. Confesso que foi ar fresco para a minha cabeça: o hábito de assistir a uma missa sem passar metade do tempo sentado a tocar é diferente. Mas o ar fresco deveu-se a dinamismo. A entrega. A um quase "finalmente". Senti realmente uma assembleia mesmo presente, sem tendencias de cumprir horário.

A comunidade musical portuguesa vai aumentado, e no final do mês seremos por volta de 9 alunos portugueses a estudar no Conservatório de Haia (onde 5 deles estudaram no Instituto Gregoriano de Lisboa, em geraçoes diferentes). A ligação que se mantem ao viver com outros portugueses é quase a formaçao de laços familiares.

Por isso, estamos a tentar implementar o "Almoço Familiar", ou "Almoço Portugues". Cada Domingo distribuem-se tarefas culinárias antecipadas e o almoço reune à mesa a comunidade cá de casa: é compreensivel que seja raro as alturas em que estamos todos juntos. E nao deixa de ser confortavel ter esta visão de Domingo: eu acho-a, pessoalmente, reconfortante.

As aventuras começam a ser muitas para escrever. Talvez preguiça. Destaco a "aventura de Rhene", onde fui ter com um casal que vendia órgãos em 2ª mao. A oficina era fora de uma aldeia, que ficava perto da vila de Rhene. Caminhei durante 1 hora, por uma unica estrada que percorria somente campos de feno para vacas. As casas eram poucas, viam-se a conta gotas. Quando ja estava perto de desistir, descobri o local (mesmo no quase "meio do nada").

Para final, penso nas palavras de um Organista de uma igreja aqui de Haia. Ontem foi dia de monumentos abertos, e nessa igreja contactámos com o organista. Durante a explicação acerca do Órgão da Igreja, referiu que tinha dificuldades em encontrar alguem que o substituisse: o numero de organistas (pelo menos localmente) está a diminuir, assim como o número de alunos. Dá-me ainda mais animo para um trabalho bem feito!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Nublado

Faz 5 dias (nem tanto) que estou em Haia, e parece que já cá estou há um mês. Para tal, ajudou as 3 horas de caminhadas diárias, onde já percorremos (eu e a Ana, a minha room-mate) Haia de uma ponta a outra. 

Fomos à praia, e apesar de alguma distancia (vai-se de autocarro, que daqui demora 15 minutos. Embora os preços de viagem sejam caros relativamente a Lisboa), é impossivel nao sentir uma alegira por ter um local tao bom como aquele. Os bares que rodeiam a praia, mesmo com tempo nublado, fazem esquecer o frio, e lembram (talvez) um Verão, que nao estando presente pelo calor, está pelo espirito.

A procura de casa tem sido intensiva, mas começa a dar os seus primeiros frutos. Hoje é dia de visitas a casa (vou visitar uma que fica.. junto à praia!), e tambem de marcar contacto com uma colega organista. Mais um dia agitado, a nao fugir à regra, mas que felizmente é por uma boa causa. 

Hoje, com o regresso do Nuno a Haia, a casa encheu-se de mais música. O cravo da Maria ja está afinado, e nao resisti em estudar um bocadinho. Mal, talvez, mas deu para animar o ritmo de estudo que teimava em abrandar.

Ja parece que passou um mês.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dia 1

A partida foi feita às 7:50, sem antes nao levar com a melhor surpresa do ano!

Estou no aeroporto de Hamburgo, que para minha desilusao nao tem McDonalds. Desconfiado, comprei para almocar (teclados alemaes. Da para fazer coisas interessantes como ß) um hamburger. Nao obstante o sabor demasiado indiano, as batatas fritas eram bastante fracas. Salvou-se a Coca cola: essa nunca falha.

Está aqui na gate uma senhora portuguesa que espera pelo voo, que vai para o Luxemburgo, e parte às... 7:30 (locais). Tipicamente portuguesa. Infelizmente nao fala ingles, nao foi ela que marcou os voos, e ja tem uma certa idade. Confesso que é uma aventura. Veio no meu voo para Hamburgo, e agora há mais de uma hora que está sentada no mesmo banco. Foi acompanhada por uma assistente portuguesa da Lufthansa. Despediram-se em frente a mim, e a assistente, ao reparar que eu lia a "Sabado", nao deixou de sorrir.

14:45 parto para Amesterdao. O dia ainda nem a meio vai, mas depois de uma noite mal passada, soube bem a viagem a dormir.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pessoal e intransmissivel

Algures em Torres, 18 de Agosto, perto da meia-noite:

A Holanda é mais que uma viagem, mais que uma simples entrada para a universidade. É uma folha limpa.

Nas folhas limpas exige-se desenhos brutais ou textos fantasticos. Mas neste momento, apetece-me apreciar essa folha limpa, como há tanto nao tinha. Nao que as anteriores fosse más, contudo é sempre bom ver um recomeço.

Ás vezes tenho dificuldades em perceber as pessoas. Tenho certas dificuldades a deslocar-me da minha maneira de pensar, e perceber que ha muitas estradas tambem. E isso, logo aí, faz afastar.

Por isso, as minhas folhas anteriores costumam ter alguns pontos de interrogação. Alguns bem grandes.

Nao se ouve nada lá fora. Comigo, a jogar Trivial Pursuit, está a Ana, o Tiago, a Débora e o Eloi. Falta pouco para partir para a Holanda e as despedidas vao-se fazendo. Dizem: "Há Internet e, no maximo, voltas em Dezembro." Sinto o nó da garganta.

A folha branca é pessoal e intransmissivel. Todas as semanas se acrescenta algo. Nem que seja um ponto.

9 dias.


sábado, 14 de agosto de 2010

Férias


O tempo para descansar parecia, ao inicio, pouco. Um mês. No entanto vou a metade das férias e parece que as datas e os locais sao escolhidos minuciosamente bem. Nao por mim, eu talvez lhe chame coicidencia. Mas sei que nao.

E continua a preparaçao para o desenrolar do Capitulo. Nao vale a pena tentar adivinhar. Quando chegar, verei o que foi escrito.

sábado, 7 de agosto de 2010

Hábito

Algures no Norte, 00:30..

Em 2010 fala-se em planos tecnológicos. Aqui  vislumbra-se pela primeira vez a construcçao de uma autoestrada. Ironias.

Confesso que só a duraçao da viagem até aqui (8 horas) cria em mim uma certa inércia. Mas depois de chegar, pergunto-me: custou?

E, hábito feito em 2007, cá estou eu, no terraço. Espanha estende-se no longo preto, tal como uma tela de cinema. Ao longe ouve-se o som da banda que hoje actua aqui na festa de Bemposta. O calor é suficiente para se andar descalço, sem mantas. Noite de verão.

Este é mais um dos meus refúgios. É sempre a re-descoberta de uma cultura que, não tenho duvidas, tenderá a desaparecer. Hoje, acabado de chegar, fui assistir a uma missa e depois a sua procissão. Imagino, outrora, a aldeia a caminhar junta atrás do andor. Hoje já não, eramos poucos, tao poucos que agora a mesma aldeia olha-nos da janela de casa, em tom de curiosidade.

Sempre que cá volto, lembro-me das perguntas que deixei no ar, no ano anterior. Para ser verdadeiro, lembro-me das minhas dúvidas, sugestoes ou ambições dos ultimos 5 anos. É quase como me ver a mim próprio, com essa idade, sentado aqui ao meu lado.  

De repente, pergunto-me: “Qual foi a altura do maior desafio?”, e instanteneamente todos respondem: “Foi comigo!”. Sim, sempre senti que o maior desafio estava a acontecer. Óptimo! E  se assim continuar, é optimo sinal. Não deixo de notar a curiosidade: todos os desafios eram diferentes.

Na minha viagem para aqui, quando me encontrava em Torre de Moncorvo, virei-me para trás e perguntei para a rapariga que estava atrás de mim “se o autocarro efectuava mais alguma paragem”. E assim começou uma conversa enorme que se estendeu até.. à paragem final, terra origem da rapariga. Não soube o nome dela, nem ela o meu. O tema  “faculdade” encheu o tempo suficiente para uma discussão agradavel atraves dos metodos de avaliação do seu curso (Medicina) e o meu (Matemática). Sim, tambem estranho como tal foi possivel, mas depois de 6 horas naquele autocarro já me parecia normal.

Desde há 6 anos a viver em Lisboa, contou-me que era algo dificil vir passar 15 dias aqui ao Norte: “Sempre a mesma pasmaceira”, justificou.  E por vezes não será preciso?, pensei.  Parece que as pessoas tem medo de parar. Pensar. Pensar nem que seja nas coisas menos importantes. Só trazer a Internet comigo já é “contraproducente”, mas o futuro requer.

Mesmo aqui no fim de Portugal, onde esta zona já marca fronteira com Espanha, mesmo numa noite de Verão, não me sinto sozinho.  É aqui que Arquitecto o ano que vem. Arrumo a cabeça com toda a calma que se precisa.

Noite de verão. Assim percebo bem S. Francisco.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Génios

Se David Helfgott e John Nash partilham algo em comum, a loucura é necessariamente um dos aspectos.

"Shine" e "Beautiful Mind" são os dois filmes que retratam a vida, respectivamente, do músico e do matemático.

O primeiro era maluco, o segundo era esquizofrénico.

Em ambos os filmes, imensas frases deram para reflectir bastante. O génio tem algo de si que o faz génio, mas pouco. Tem, acima de tudo, muita devoção ao que faz. Entrega total. Talvez, por vezes, desmedida, mas tem.

"Nao é pedir muito que saibas as notas, pois nao?" é a frase que o Professor de Helfgott lhe dirige numa das aulas de piano, na Royal Academy of Music, em Londres. Verdade ou nao, a intepretação que foi dada apanhou-me de choque. Eu próprio respondi: "Nao.. claro que não." Porque toda a intenção estava em descobrir o que se escondia. Era perceber o edificio todo, e nao um encaixe de tijolos.

Hoje, mais que o primeiro dia de férias, é o último dia de um longo ano. Muito longo. Mas sorrio. Valeu a pena, porque houve devoção. Nao sou nenhum génio, nem louco nem esquizofrénico, mas procuro manter devoção e dedicação nos meus compromissos.

É desafiante.

sábado, 24 de julho de 2010

Desafio



É interessante pensar que, de todos os desafios que ja tive na minha vida, o que se segue nao teve igual.


Mesmo os mais aliciantes, como o intercambio com a turma francesa no 9º ano e a ida a Bremen o ano passado, eram "previsiveis". 

Hoje revi o filme "A walk to remember". A certa altura, alguem diz: "Deus tem maiores planos para mim, do que eu mesmo tenho." Sim, é verdade. Tenho Fé que sim. 

Sinto o desafio como uma dádiva, que embora deva apreciar, quero que dê bons frutos! E há tempo para tudo: Preparar, descansar, viajar, e depois sim, trabalhar.

O tempo que ficarei sem estar sentado a esta secretária será bastante, mas como alguem disse meio a sorrir: "Isso forma o caracter".

E os grandes/pequenos prazeres da vida vao pautando o caminho. Amanha é mais um concerto IGL. É assim que se descansa, e é assim que se prepara o novo desafio. 


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quando lemos um livro, e o primeiro Capitulo cativa-nos, é dificil nao querer virar a página e "devorar" as restantes páginas que se seguem.

Quando o primeiro Capitulo acaba, percebemos que entao há uma mudança. Somos quase "obrigados" a virar à página, e perguntar o que ligam os dois capitulos. Qual o enredo.

Nao é preciso serem grandes capitulos, até porque "muitos pequenos capitulos fazem uma grande história".

Seja. Agora, com calma, vem o II.