segunda-feira, 23 de maio de 2011

Por entre equações...

Matemática. Agora só tenho olhos para Matemática.

O exame final de orgao ja foi, e os poucos que faltam não "incomodam".

Ao contrário do que foi o ano inteiro, agora debruço-me sobre os livros de Electromagnetismo. Começo a achar piada a vários factores "nerds", e realmente tudo começa a ser diferente.

Decidi ler o livro "Logic and Computation", para a cadeira de Lógica Matemática. Lembro-me como odiava aquilo: agora escrevo comentários no livro, entre os quais "Genial!", "excelente demonstração", "Cuidado André, eles aqui estao a referir-se ao Teorema anterior, mas nao o dizem"...

Abri os exames do ano passado de Análise Real. Começo a sorrir quando vejo perguntas que agora ja fazem sentido. Agora faz sentido porque é que o conjunto de Volterra só pode ser Jordan-Mensuravel quando e = 0.

Trata-se de respirar Matemática. Vou-me deixar levar nesta onda de numeros, letras, teoremas e equaçoes.

A Música não se importará: estou-lhe a fazer um favor!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

modo menor

Final de dia, mais uma história.

Ás 10:30 da manha cheguei à Westerkerk, igreja onde iria fazer um recital, às 13. Abriu-me as portas um funcionário, simpático, que me indicou que Jaap-Jan, um colega meu que me iria ajudar no recital, já se encontrava no órgao.

Depois de ter tocado, voltámos para dentro dos escritórios da igreja, onde o mesmo funcionário que me abrira a porta convidava-nos para um café. Embora visivelmente ocupado, teve tempo para me perguntar "Como estava Portugal", pois sabia que a crise financeira afectava profudamente o nosso país. Jaap-Jan escutava atentamente, e gostei da simpatia do senhor.

Ás 12:00, quando faltava apenas uma hora para o concerto, e depois de termos ido ao supermercado comprar comida, eu e o Jaap voltámos para a igreja, onde resolvemos ir ver alguns livros que estavam à venda, acerca do órgão.

Passado alguns momentos, oiço passos de corrida. Dentro da igreja. Reparo, entao, que se pedia "Call an ambulance". E ali, 5 metros atrás de nós, alguem estava estendido no chão. Meio estupefactos com a situaçao, e sem podermos ver-lhe a cara, vimos uma funcionária da igreja a trazer almofadas, e logo instantaneamente a dizer: "Oh my god, oh my god..!!".

Dois passos para o lado foram suficientes para perceber: o senhor que estava estendido no chão era o mesmo senhor que me tinha aberto a porta, de manha, e que me tinha oferecido o café. 

Era o mesmo senhor que há menos de uma hora atrás estava a sorrir para mim e a fazer-me sentir preparado para o concerto. 

O tempo passava. 12:30. Chegou a ambulância. Vi-o sair, de maca, tronco nu envolto em fios, respiração por mascara e ainda inconsciente. 

Passado 5 minutos, uma outra funcionária da igreja apareceu-me e perguntou: "Are you able to play?"

Sim.

E se este concerto ja tinha uma dedicatória ao meu Tio F, nao pude deixar de pensar tambem em toda a historia que me acontecera. 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

História de final de dia

Não sei como começar a contar esta pequena história. 

Hoje de manha estava a voltar para casa, vindo do Conservatório, quando achei que devia passar peça capela da igreja católica a que costumo ir. Amanhã é dia de recital, e queria pedir ao JC inspiração.

Puxei a porta de madeira, e entrei na capela. Mais pequena do que eu imaginara. Tinha outra porta, que dava directamente para a igreja. Esta porta nao era mais do que um gradeamento ornamentado, como se de um convento se tratasse. Assim podia-se ver directamente o sacrário da igreja. A capela não tinha, creio. 

Sobre uma pequena estante de leitura, estava um livro aberto e uma caneta. Olhei de relance, pensei que se tratasse de um simples livro de visitas. Reparei, então, que era um livro cheio de orações escritas pelas várias pessoas que por ali passavam. 

O que mais me despertou foi a primeira oração que li.... porque era em português. Senti um calor especial. Sentei-me num banco e resolvi procurar por mais português. Queria perceber se haviam mais ou não. 

Descobri mais 3 oraçoes portuguesas. A primeira repetia-se diversas vezes ao longo do livro. Percebi que seria alguem que costumava ir à capela, e escrevia sempre a mesma oraçao. Três páginas.

A segunda oração fez-me sentir estranho. A caligrafia era igualzinha à da minha avó. O traço antes do "m" que sublinhava a letra fez-me ficar petrificado a olhar para o livro.

A terceira oração que descobri, fez-me parar. Não era uma oração, era uma súplica. Conseguia sentir a aflição da pessoa nas palavras, nas letras. Poderia reproduzir aqui parte, mas nao vale a pena. Quando a acabei de ler, fechei o livro. Gostava que a pessoa estivesse ao meu lado. 

Abri de novo o livro, para tambem eu escrever uma oração, onde basicamente pedia por todas as oraçoes daquele livro. Parece estranho. Mas senti que tinha que ser assim.

Deixei-me ficar naquele silêncio, onde me apetecia ajudar todos aqueles que tambem ali entraram a pedir ajuda. 

Foi entao que entrou uma senhora. Ajoelhou-se por pouco tempo. Levantou-se, quis acender velas. Nao encontrava os fósfóros. Apontei-lhe, subtilmente, e ela agradeceu sorrindo. 

Havia qualquer coisa que eu estranha na senhora. Percebi que ela parecia portuguesa. Mas, no meio desta história toda, achei que era demasiada coincidencia. No entanto, tanto a estatura como as feiçoes faziam-me quase por as maos no fogo em como seria portuguesa. Deveria ter por volta de 60 anos. 

Ao dirigir-se para saída, senti-me impelido a perguntar. Percebi que podia ser ridículo, mas a vontade vinha de dentro. 

"English?", perguntei. Ela sorriu e com os dedos fez de sinal de "muito pouco."

Entao disparei logo: "Portuguese?", ao que ela respondeu: "Sim".

E com um "Eu tambem", começámos a falar. Enganei-me na aposta. Nao era portuguesa. Era brasileira:

"Chamo-me Teresa, mas todo o mundo me chama de VóTeresa, pois tenho 9 netos!". 

A conversa continou, com as necessárias introduções. Desenvolveu com convites. Trocámos e-mails. Ficámos de voltar a falar.

Despediu-se de mim, dando-me uma bençao, no seu sotaque brasileiro. 

Mal saiu, voltei a sentar-me no banco, meio incrédulo por estas histórias que vao acontecendo e abrindo novos capitulos. Parecia que o JC estava a piscar o olho e a fazer sinal de Ok. 

Saí com mais fé. "Amanhã tenho recital", esqueci-me disso. Bom, Ele lá estará!

domingo, 1 de maio de 2011

Páscoa

Chego a casa vindo de Haarlem. O telemovel diz-me que são 13h. É o meu almoço de Páscoa, quero fazer algo especial.

A rapidez com que entro em casa, com roupa preta, camisa e calças, é a rapidez de saída, com calçoes e t-shirt. Pego na bicicleta em direcção ao AlbertHeijn, o supermercado de todos os holandeses.

Está fechado. Paro 1 minuto para pensar como fazer: voltar para casa e almoçar sandes, ou inventar outra solução.

Decidido. A temperatura acima de 20 graus fez-me ir até à praia, de bicicleta. 

Quando desvio para a enorme estrada que me levaria até a Scheveningen, percebi que acabara de entrar num autêntico filme americano. Tinha ligado o mp3, com Beach Boys a fazerem a banda sonora. Passavam, entao, descapotáveis, onde ele, com os seus óculos escuros, conduzia, e ela aproveita para "deixar os cabelos ao vento". Por mim passavam tambem muita gente de mota ou bicicleta, preparados para entrar na praia e ir directos ao mar.

Soube-me bem. Uma aragem quente, confortável. Sentira pena de não poder ir a Portugal para a Páscoa, mas soube-me a recompensa.

Cheguei à praia. Parecia Agosto. Ou melhor, parecia Agosto e em Cascais, onde nas alturas de grande afluência, encontrar um espaço livre é dificil. 

Fui almoçar ao BurguerKing. Terminado o almoço, passei na estrutura de ponte, que caracteriza Scheveningen.


Percebi-me, então, de como o ano tinha passado a correr. Lembro-me de quando cheguei, com 3 malas, e me questionava a injustaça de sair de Portugal com calor, e entrar numa Holanda onde ja precisava do kispo. 

Hum.. Afinal o ano não tinha passado a correr. Mas acredito que quando nos empenhamos nalguma coisa, com afinco, o tempo passa mais depressa. Trabalho não faltou. E mesmo agora tambem não falta.

Volto no final de Maio para Portugal, e talvez como há muito tempo nao sentia: não desejo férias. Quero estudar, e concluir o que há para concluir. Férias terei, mais cedo ou mais tarde, mas não quero que isso apresse, pressione ou influencie o meu modo de conduzir as coisas.

2010/2011 deu-me organização e disciplina. Para o ano está marcado mais rigor e mais trabalho ainda.

Volto. O calor de Scheveningen está a desaparecer. 

O télemovel diz-me que são 14:30. Acabaram as férias, vou estudar.

3 anos, 3 viagens