sexta-feira, 6 de maio de 2011

modo menor

Final de dia, mais uma história.

Ás 10:30 da manha cheguei à Westerkerk, igreja onde iria fazer um recital, às 13. Abriu-me as portas um funcionário, simpático, que me indicou que Jaap-Jan, um colega meu que me iria ajudar no recital, já se encontrava no órgao.

Depois de ter tocado, voltámos para dentro dos escritórios da igreja, onde o mesmo funcionário que me abrira a porta convidava-nos para um café. Embora visivelmente ocupado, teve tempo para me perguntar "Como estava Portugal", pois sabia que a crise financeira afectava profudamente o nosso país. Jaap-Jan escutava atentamente, e gostei da simpatia do senhor.

Ás 12:00, quando faltava apenas uma hora para o concerto, e depois de termos ido ao supermercado comprar comida, eu e o Jaap voltámos para a igreja, onde resolvemos ir ver alguns livros que estavam à venda, acerca do órgão.

Passado alguns momentos, oiço passos de corrida. Dentro da igreja. Reparo, entao, que se pedia "Call an ambulance". E ali, 5 metros atrás de nós, alguem estava estendido no chão. Meio estupefactos com a situaçao, e sem podermos ver-lhe a cara, vimos uma funcionária da igreja a trazer almofadas, e logo instantaneamente a dizer: "Oh my god, oh my god..!!".

Dois passos para o lado foram suficientes para perceber: o senhor que estava estendido no chão era o mesmo senhor que me tinha aberto a porta, de manha, e que me tinha oferecido o café. 

Era o mesmo senhor que há menos de uma hora atrás estava a sorrir para mim e a fazer-me sentir preparado para o concerto. 

O tempo passava. 12:30. Chegou a ambulância. Vi-o sair, de maca, tronco nu envolto em fios, respiração por mascara e ainda inconsciente. 

Passado 5 minutos, uma outra funcionária da igreja apareceu-me e perguntou: "Are you able to play?"

Sim.

E se este concerto ja tinha uma dedicatória ao meu Tio F, nao pude deixar de pensar tambem em toda a historia que me acontecera. 

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