quinta-feira, 5 de maio de 2011

História de final de dia

Não sei como começar a contar esta pequena história. 

Hoje de manha estava a voltar para casa, vindo do Conservatório, quando achei que devia passar peça capela da igreja católica a que costumo ir. Amanhã é dia de recital, e queria pedir ao JC inspiração.

Puxei a porta de madeira, e entrei na capela. Mais pequena do que eu imaginara. Tinha outra porta, que dava directamente para a igreja. Esta porta nao era mais do que um gradeamento ornamentado, como se de um convento se tratasse. Assim podia-se ver directamente o sacrário da igreja. A capela não tinha, creio. 

Sobre uma pequena estante de leitura, estava um livro aberto e uma caneta. Olhei de relance, pensei que se tratasse de um simples livro de visitas. Reparei, então, que era um livro cheio de orações escritas pelas várias pessoas que por ali passavam. 

O que mais me despertou foi a primeira oração que li.... porque era em português. Senti um calor especial. Sentei-me num banco e resolvi procurar por mais português. Queria perceber se haviam mais ou não. 

Descobri mais 3 oraçoes portuguesas. A primeira repetia-se diversas vezes ao longo do livro. Percebi que seria alguem que costumava ir à capela, e escrevia sempre a mesma oraçao. Três páginas.

A segunda oração fez-me sentir estranho. A caligrafia era igualzinha à da minha avó. O traço antes do "m" que sublinhava a letra fez-me ficar petrificado a olhar para o livro.

A terceira oração que descobri, fez-me parar. Não era uma oração, era uma súplica. Conseguia sentir a aflição da pessoa nas palavras, nas letras. Poderia reproduzir aqui parte, mas nao vale a pena. Quando a acabei de ler, fechei o livro. Gostava que a pessoa estivesse ao meu lado. 

Abri de novo o livro, para tambem eu escrever uma oração, onde basicamente pedia por todas as oraçoes daquele livro. Parece estranho. Mas senti que tinha que ser assim.

Deixei-me ficar naquele silêncio, onde me apetecia ajudar todos aqueles que tambem ali entraram a pedir ajuda. 

Foi entao que entrou uma senhora. Ajoelhou-se por pouco tempo. Levantou-se, quis acender velas. Nao encontrava os fósfóros. Apontei-lhe, subtilmente, e ela agradeceu sorrindo. 

Havia qualquer coisa que eu estranha na senhora. Percebi que ela parecia portuguesa. Mas, no meio desta história toda, achei que era demasiada coincidencia. No entanto, tanto a estatura como as feiçoes faziam-me quase por as maos no fogo em como seria portuguesa. Deveria ter por volta de 60 anos. 

Ao dirigir-se para saída, senti-me impelido a perguntar. Percebi que podia ser ridículo, mas a vontade vinha de dentro. 

"English?", perguntei. Ela sorriu e com os dedos fez de sinal de "muito pouco."

Entao disparei logo: "Portuguese?", ao que ela respondeu: "Sim".

E com um "Eu tambem", começámos a falar. Enganei-me na aposta. Nao era portuguesa. Era brasileira:

"Chamo-me Teresa, mas todo o mundo me chama de VóTeresa, pois tenho 9 netos!". 

A conversa continou, com as necessárias introduções. Desenvolveu com convites. Trocámos e-mails. Ficámos de voltar a falar.

Despediu-se de mim, dando-me uma bençao, no seu sotaque brasileiro. 

Mal saiu, voltei a sentar-me no banco, meio incrédulo por estas histórias que vao acontecendo e abrindo novos capitulos. Parecia que o JC estava a piscar o olho e a fazer sinal de Ok. 

Saí com mais fé. "Amanhã tenho recital", esqueci-me disso. Bom, Ele lá estará!

2 comentários:

  1. Grande post! JC também nos fala através das sincronicidades ;)
    JJ

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  2. Este post fez me lembrar o porque de ter fé em Deus e nas pessoas.

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