domingo, 28 de novembro de 2010

Emigrante

A pequena história que vou contar estragou-me o dia, nao só pela história, mas por ser o culminar de uma situação que irrita a minha orelha esquerda.

Ser emigrante é, quer se queira quer nao, ser olhado pelas outras pessoas como: "Este-não-é-de-cá". Nao digo que é bom ou mau, apenas uma reacção natural. Tantas vezes aconteceu-me em Portugal e cruzar-me com pessoas que notoriamente nao tinham "aspecto de Tuga". Se era só a mim que isso acontecia, entao é mau sinal.

E comigo a regra nao foge. Mesmo num pais que por vezes reune Americanos, Mohamed's e Pierre's em pouco mais de 1 km2, nota-se que há sempre aquele "que-não-é-de-cá". E eu, notoriamente, sou um desses.

Isso implica que, quando vou a passar na rua, levo por vezes com olhares que eu proprio fazia antigamente. Ao inicio pensei que seria pela raridade de ter as pernas algo curvadas, mas depois percebi que nao. 

É, nalgumas vezes, desconfortante. Porque as pessoas continuam a olhar mesmo depois de eu olhar para elas. Quando me enerva particularmente, finjo olhar para tras, na procura de um ponto invisivel para onde a pessoa tivesse a olhar. E quando volto a cara, o olhar desapareceu.

Mas hoje, excederam-se.

Estava a ir de bicicleta para casa, vindo do Albert Heijn (o supermercado da zona, fusao de Pingo Doce [decididamente a musica ambiente é enervante], Continente, e tem algo de Jumbo e MiniPreço) . Encontrava-me na longa avenida "Het Kleine Loo". Estava algo deserta, os dois sentidos estavam sem carros, e apenas umas pessoas atravessavam para irem ao centro comercial aqui da zona.

Eu estava perdido nos meus pensamentos, enquando ouvia o meu mp3. Estava bastante frio, portanto levava o capuz (mesmo nao estando a chover), o cachecol. Resumindo: ia bem agasalhado. 

Começa o festival: passa por mim um carro da policia. E ao passarem por mim, resolvem abrandar. Mas quando digo abrandar, foi literalmente manterem a mesma velocidade que eu (baixa, por sinal). Nisto, um dos policias (o do banco do pendura), começa a olhar fixamente para mim. Nao foi 1 segundo, foram 10 ou mais. E nisto, la iamos "caminhado" alegremente pela avenida. Fiquei irritado, e tirei o capuz para me verem melhor a cara. O policia deixou de olhar... por 1 segundo. De seguida voltou a fazer a figura de parvo que estava a fazer. A certa altura o carro acelerou e parou nos semaforos em frente. 

Entretanto pensei rapidamente que podia estar a infrigir alguma regra de transito. Mas vejamos: lado certo da via, sim. [Embora veja com cada anedota todos os dias..] Luzes, nao eram preciso: estavamos de dia e sem nevoeiro. Musica? É permitido. 

A pista das bicicletas cortava pela estrada dentro: dividia a faixa dos carros que queriam seguir em frente, como eu, da faixa dos que queriam virar para a direita, que era o caso da policia.

O semaforo deve ter aguentado de proposito para que eu chegasse. E nisto, a minha bicicleta pára lado a lado com o carro da policia. Evito olhar para eles, e quando o faço, respirei bem fundo: Estavam os policias a olhar para mim, outra vez com cara de caso. Mal perceberam que eu estava a olhar, desviaram a cara. Entretanto o semaforo deles tinha aberto, e seguiram.

Caros amigos, e mesmo sabendo que tambem os meus pais leem isto, eu gostava de dizer que, naquele momento, por 1 milesimo de segundo eu pensei em bater na janela do carro e perguntar:

"Good morning, Officer. Is there any problem?"

Acho que esta foi a versao soft, que me passou pela cabeça. Depois do sucedido e deles terem ido embora, confesso que me apetecia incluir algumas asneiras para tornar a frase ciente do quanto me tinha irritado aquela cena toda.

Enfim, tirando este promenor, parece que vivo em Haia há mais de 1 ano. A neve começa a aparecer, e a dar um colorido ao Natal que so via em filmes. Surgiu tambem uma proposta para ser organista numa igreja protestante, que se Deus quiser, irá-se concretizar.

Vidas..!

1 comentário:

  1. :)
    pergunto-me, depois deste episódio, porque é que não sorriste para os policias com um sorriso dos teus que diz 'este é o orgulho tuga. eu tive coragem de vestir o papel de emigrante e vir pro teu país andar ao frio enquanto tu te passeias no quentinho oferecido pelo comodismo do teu carro e do teu país.............oh palhaço'

    pá.. 'não sou grego nem atenience...' não é? :)

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