sábado, 7 de agosto de 2010

Hábito

Algures no Norte, 00:30..

Em 2010 fala-se em planos tecnológicos. Aqui  vislumbra-se pela primeira vez a construcçao de uma autoestrada. Ironias.

Confesso que só a duraçao da viagem até aqui (8 horas) cria em mim uma certa inércia. Mas depois de chegar, pergunto-me: custou?

E, hábito feito em 2007, cá estou eu, no terraço. Espanha estende-se no longo preto, tal como uma tela de cinema. Ao longe ouve-se o som da banda que hoje actua aqui na festa de Bemposta. O calor é suficiente para se andar descalço, sem mantas. Noite de verão.

Este é mais um dos meus refúgios. É sempre a re-descoberta de uma cultura que, não tenho duvidas, tenderá a desaparecer. Hoje, acabado de chegar, fui assistir a uma missa e depois a sua procissão. Imagino, outrora, a aldeia a caminhar junta atrás do andor. Hoje já não, eramos poucos, tao poucos que agora a mesma aldeia olha-nos da janela de casa, em tom de curiosidade.

Sempre que cá volto, lembro-me das perguntas que deixei no ar, no ano anterior. Para ser verdadeiro, lembro-me das minhas dúvidas, sugestoes ou ambições dos ultimos 5 anos. É quase como me ver a mim próprio, com essa idade, sentado aqui ao meu lado.  

De repente, pergunto-me: “Qual foi a altura do maior desafio?”, e instanteneamente todos respondem: “Foi comigo!”. Sim, sempre senti que o maior desafio estava a acontecer. Óptimo! E  se assim continuar, é optimo sinal. Não deixo de notar a curiosidade: todos os desafios eram diferentes.

Na minha viagem para aqui, quando me encontrava em Torre de Moncorvo, virei-me para trás e perguntei para a rapariga que estava atrás de mim “se o autocarro efectuava mais alguma paragem”. E assim começou uma conversa enorme que se estendeu até.. à paragem final, terra origem da rapariga. Não soube o nome dela, nem ela o meu. O tema  “faculdade” encheu o tempo suficiente para uma discussão agradavel atraves dos metodos de avaliação do seu curso (Medicina) e o meu (Matemática). Sim, tambem estranho como tal foi possivel, mas depois de 6 horas naquele autocarro já me parecia normal.

Desde há 6 anos a viver em Lisboa, contou-me que era algo dificil vir passar 15 dias aqui ao Norte: “Sempre a mesma pasmaceira”, justificou.  E por vezes não será preciso?, pensei.  Parece que as pessoas tem medo de parar. Pensar. Pensar nem que seja nas coisas menos importantes. Só trazer a Internet comigo já é “contraproducente”, mas o futuro requer.

Mesmo aqui no fim de Portugal, onde esta zona já marca fronteira com Espanha, mesmo numa noite de Verão, não me sinto sozinho.  É aqui que Arquitecto o ano que vem. Arrumo a cabeça com toda a calma que se precisa.

Noite de verão. Assim percebo bem S. Francisco.

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